Entrevista que eu concedi ao Itaú Cultural
Qual é a importância de compartilhar com outros gestores as suas
experiências na área cultural? Como você vê essa troca?
A cultura é uma partilha que, antes de tudo, precisa ser
dialogada com a diversidade. Ou seja, compartilhar é encontrar meios para
melhor gerir a cultura, no lugar onde se encontra o gestor cultural. Todas as
vezes que conversamos com outros gestores, o nosso olhar se amplia para a
inovação, sem esquecermos que a cultura é viva, e se movimenta, e se inova, e
envelhece. Isso porque muitas vezes pensamos um projeto no período da manhã e,
ao final do dia, já precisamos inová-lo e repensá-lo. A cultura é como a
própria existência humana, uma narrativa que constrói ou destrói laços no dia a
dia. Portanto, o diálogo entre gestores culturais é de suma relevância para
atingir o sucesso almejado.
Os desafios são muitos! Principalmente nos dias atuais,
quando o próprio artista gere a sua arte. O século XXI está repleto de artistas
independentes e, para um artista independente, as dificuldades são maiores.
Quem vai assessorar o seu trabalho? Quem vai fazer chegar a sua música ou o seu
livro ao público? Sem dizer que pouquíssimos artistas independentes têm
recursos financeiros.
Na área literária, sobre a qual tenho mais conhecimento,
vejo que, mesmo com certo avanço neste início de século, ainda existem desafios
enormes para o escritor independente. Um bom exemplo é a preferência que se dá
nas feiras literárias aos escritores que estão na mídia ou que ganharam prêmios
literários. E estes continuam elitizados, ou seja, basta olhar a lista dos
ganhadores para ver que a maioria deles é de editoras renomadas. Observe os
convidados das festas literárias e veja que são aqueles que circulam na mídia,
que ganharam prêmios ou são autores de editoras renomadas. Talvez o grande
desafio para o escritor independente, que também é o seu próprio produtor
cultural, seja transpor algumas muralhas já concretizadas no meio literário.
Para o gestor cultural, entretanto, de uma forma geral, os
desafios sempre vão existir. E não vejo isso como algo ruim. Para que essas
dificuldades sejam superadas, cabe ao gestor conhecer bem o lugar onde ele se
encontra. Nem sempre o produtor/gestor cultural vai atingir o sucesso, mas, se
ele não tiver coragem para encarar as dificuldades, é melhor que não se atreva
nessa área.
Um gestor cultural precisa ser flexível, apto a ouvir e
aberto ao diálogo. E diálogo aqui não se resume a um bate-papo, mas a algo bem
mais amplo. O gestor cultural precisa ter habilidades e competências para
mediar conflitos que possam (e vão!) surgir em sua equipe. Antes de tudo, ele
precisa ter liderança e plena consciência de que na gestão cultural não se
trabalha sozinho e de que o sucesso alcançado é fruto do trabalho de toda a
equipe.
Vejo as políticas culturais praticadas na cidade de São
Paulo com grande dinamismo. Às vezes pensamos que as coisas estão caminhando
bem, mas, então, o quadro político muda e tudo (re)começa!
Na periferia, onde a arte e a cultura são movidas pelo
espírito e pela força de um povo que respira e inspira arte, existe uma
produção independente muito acentuada: publicação de livros, surgimento de
novos cantores, artistas plásticos em busca de espaços para expor a sua arte...
Aliás, São Paulo é uma cidade muito dinâmica. É possível ver uma manifestação
artística e cultural diferente em cada bairro. Ser gestor cultural na cidade de
São Paulo exige movimentação constante por parte desse profissional, caso ele
não queira que seus planos e projetos fiquem ultrapassados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário