quinta-feira, 10 de junho de 2021

Resenha Crítica sobre o livro Maria, de Adenildo Lima

 Por Gilvania Lamenha

 Nas tramas da leitura do romance Maria, de Adenildo Lima, é possível perceber a intertextualidade com a obra literária “Vidas Secas”, do consagrado escritor alagoano, Graciliano Ramos.

Há uma forte característica do processo de desumanização ocasionado pelos problemas sociais abordados na narrativa, e com muita riqueza de detalhes: a desertificação do sítio de Maria, pela falta de incentivo à agricultura familiar e a morte da biblioteca ambulante, que era sinônimo de diversão, pois a partir da contação de histórias, a imaginação despertou nas crianças o desejo de realizar os seus sonhos e superar aquela dura realidade.

Observa-se que através da prática da oralidade as sementes germinam e rendem bons frutos (leitura e escrita). No enredo desse romance há fortes características de uma literatura engajada, com a denúncia de injustiça social devido o surgimento do tráfico de drogas e aumento da violência acentuada pelo crime organizado e a impunidade.

A infelicidade do personagem Vicente é desmedida ao se deparar com a violenta morte de um trabalhador rural. Além de ter perdido a pessoa amada, Vicente teve a infância roubada devido à exploração do trabalho infantil, viu o descaso com a saúde pública refletida na falta de médico e assistência hospitalar, experimentou a fome e a miséria que ainda hoje obriga as pessoas a deixarem o lugar onde vivem, em busca de emprego para garantir a sobrevivência e a realização profissional.

            A valorização da natureza também é marcada na referida prosa: O silêncio da noite, o canto do galo, a paisagem rural. O olhar e a meiguice da cachorra Piaba se assemelham a de Baleia, pois é mais sensível que os humanos. A voz de Maria é estridente e aponta para as desigualdades sociais.


No capítulo Ana, quanta tristeza! Ela já estava sem pai, sem mãe, sem irmão, sem voz e nesse momento lembrei "E agora, José?", pois ele também ficou sem discurso. Mas ao visualizar o capítulo seguinte minha vontade foi de perguntar: E agora, Maria? E envolvida pelo enredo e pela linguagem acessível dessa maravilhosa obra literária, percebi na profunda reflexão de Maria que "A vida é o que se vive". Em instantes me deparei com a personagem que, vítima de um acidente de trabalho, já agonizava para morrer, mas em meio aos delírios não abria mão dos seus sonhos: ver o mar em sua imensidão e a filha formada.

            E para a minha alegria descubro que Maria Rita resistiu a todas as dificuldades enfrentadas. Ela é sinônimo de resiliência e representa todas as Marias desse país.      Tenho certeza de que ainda há muitas Ritinhas no Brasil, dispostas a mudar essa história de milhares de crianças vítimas do descaso social e que vivem esperando "dias melhores".

            Agora imagino... Se Maria Rita tivesse permanecido sentada no alpendre de sua casa, contemplando a desertificação do sítio onde morou, certamente não teria resistido aos percalços dessa vida. Mas foi graças a poesia de Drummond que teve suas forças revigoradas e através da leitura ganhou asas.

Já nem sei quantos Josés e quantas Marias há nesse país, que leram Carlos Drummond, Graciliano Ramos e certamente lerão Adenildo Lima. E sem muitas dificuldades gritarão em alta voz "eu preciso ser alguém na vida" e, após atravessar desertos, “eu sobrevivi", pois aprendi a arte de ouvir, falar, gostar de poesia, ler e escrever.

Minibiografia

Gilvania Lamenha Silva Santos, filha de José Lamenha da Rocha e Maria de Lourdes Luna da Silva, nasceu em 31 de janeiro de 1969, no Engenho Canto Escuro, município de Colônia Leopoldina.   Frequentou as turmas multisseriadas em escolas do espaço rural, mas concluiu a 4ª série na Escola Joaquim Luiz da Silva, após a sua vinda para a cidade. Cursou o fundamental II no Colégio Cenecista (até a 7ª série) e concluiu a 8ª série no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Palmares- PE. Voltou ao Colégio Cenecista Padre Francisco para cursar o Magistério (1987). A graduação em Letras (1994) e a Especialização em Língua Portuguesa (2001) na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul - FAMASUL.

Em 01 de fevereiro de 1987 iniciou as atividades profissionais no quadro do magistério público municipal nas séries iniciais, na Escola Joaquim Luiz da Silva, também teve uma experiência com alfabetização de crianças, pela empresa privada por um período de quase 08 anos, na Escola Manoel Siqueira Campos, Destilaria Porto Alegre. Nas séries finais do ensino fundamental, lecionou na Escola Antônio Lins da Rocha, em Colônia Leopoldina e na Escola Municipal Carlos Regis de Andrade, em Sertãozinho de Baixo, Maraial –PE.  Ainda exerceu a função de professora por um período de aproximadamente três anos, no Curso de magistério do mesmo Colégio onde concluiu o ensino médio.

Por nove anos exerceu a função de coordenadora escolar na Semed - Colônia Leopoldina, foi gestora na Escola Antonio Lins da Rocha e na Escola Aristheu de Andrade. Aposentou-se em 2020, apenas na Rede Municipal. Atualmente integra o quadro de professora efetiva da Seduc/ Alagoas e ministra aulas de Língua Portuguesa no Ensino Médio da Escola Estadual Aristheu de Andrade, em Colônia Leopoldina.