1. De onde surgiu a motivação para ser escritor e se alguém o influenciou?
Não me lembro de ter sido influenciado por outra pessoa para iniciar
meus escritos, mesmo tendo plena consciência que sempre somos influenciados por
alguma coisa ou pessoa e, em especial, as experiências vividas no dia a
dia. Acredito que na minha infância o que me despertou ao gosto pela
leitura foi ouvir meu pai lendo a bíblia e ensinando-me a lê-la, e minha mãe
declamando alguns poemas populares, desses que passam de geração em geração, e
um primo meu que quando passava por lá, onde eu morava, contava histórias. E
isso, penso eu, aguçou em mim a busca pelo sabor das palavras. Por outro lado,
é importante ressaltar que tive a minha infância e adolescência num sítio, no
município de Colônia Leopoldina, uma pequena cidade no estado de Alagoas, para
chegar a uma escola precisava andar de uma a duas horas a pé. Ou seja, os
primeiros contatos que eu tive com a leitura foram ao observar o raiar do sol
pela manhã, ouvir o cantar dos pássaros ao amanhecer de cada dia e sentir o
cheiro de terra adentrando minhas narinas, trazendo-me cheiro de vida, essência
poética para o meu existir. Já aqui em São Paulo, quando cheguei em 1998,
fiquei perplexo com o contraste vivenciado por mim: a correria, o barulho dos
carros, muito diferente do canto dos pássaros lá no Nordeste. Mas, hoje, estou
completamente habituado na cidade grande, sem perder a minha história, a minha
narrativa, a essência de tudo o que me faz ser o que sou atualmente.
2. Por
que você gosta de escrever?
Escrever é o que me faz viver. Não me vejo sem escrever. Acredito que a
minha vida não teria graça se hoje eu não estivesse saboreando o sabor de cada
palavra, vivendo a experiência de cada personagem. Às vezes eu penso que se não
existisse a arte, a vida seria um vão sem essência, sem sabor, sem cor; neutra.
3. Quais são os
livros/autores/personagens favoritos e porquê?
São muitos. Só este ano já li 18 (dezoito livros), e só se passaram
quatro meses de 2015. Mas vou aproveitar a oportunidade para falar do livro que
acabo de concluir a leitura: Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus.
Diário de Bitita é um livro que em cada linha discorre um pouco de vida, de
morte, de amor, de dor, ao descrever a vida da própria autora, em tom poético.
Ela escreve com maestria, mostra um Brasil dos primeiros 50 (cinquenta) anos do
século 20, diante de todos os seus percalços e sonhos, na esperança, no olhar
de um povo alegre e sofredor. Diário de Bitita torna-se leitura necessária para
quem deseja conhecer um pouco mais desse nosso país chamado Brasil, e para quem
gosta de apreciar a boa literatura. E, por outro lado, para quem deseja
conhecer um pouco mais da face humana refletida em vários reflexos,
multifacetada.
4. Quais
e quantos livros lançados e como se deu a carreira?
Até o momento tenho três livros publicados. Comecei em 2009 com o livro:
“O copo e a água”, literatura infantil. E estou trabalhando para
publicar a 2ª edição, este ano. Depois veio em 2012 o livro de poemas: “Lobisomem
pós-moderno”, em parceria com o poeta Márcio Ahimsa, com cinquenta e poucos
poemas de minha autoria e cinquenta e poucos poemas de autoria dele. E só um
poema é em coautoria. E no final de 2013 publiquei “A parteira”, que é
um poema narrativo composto por um pouco mais de 1500 (mil e quinhentos)
versos. Em 2014 ficou com o 2º lugar no Prêmio Poetizar o Mundo com Livros.
5. Você
utiliza algum material como referência para escrever, ou é pura e simplesmente
inspiração momentânea?
Sinceramente, não acredito que “inspiração momentânea” possa transformar
alguém em escritor. Acredito que todo o escritor precisa ler e ler e reler tudo
o que ele puder e estiver ao seu alcance. Escrever, ao meu ponto de vista, é um
processo contínuo, que exige paciência, dedicação, amadurecimento e coragem.
Sim, coragem, escrever também é um ato de coragem. Escrever é inventar novos
mundos, pessoas... é desnudar-se em cada obra concluída.
6. O
que você mais gosta nas próprias histórias e se o seu gênero literário encontra
dificuldades no mercado?
Acredito que dificuldades sempre vamos encontrar. E isso não é ruim.
Ajuda o artista a amadurecer mais. O que eu mais gosto no que escrevo é quando
recebo o retorno de algum leitor, de alguma leitora, é o maior prêmio.
7. De
qual forma, ser escritor afetou a sua vida e quando a escrita virou profissão?
É sempre uma felicidade muito grande, a cada momento que concluo algum
trabalho literário. E no ofício de escrever vou ser sempre amador. Quando a
escrita vira profissão muitas vezes o escritor deixa de escrever por si, perde
a essência. E é importante dizer que desejo muito poder viver dos meus
escritos, mas que isso não seja uma profissão. Na vida de escritor quero ser
como uma criança que brinca, que encontra sentido nas coisas mais simples, que
nós adultos, não conseguimos observar no dia a dia.
8. Uma dica valiosa para novos escritores seria?
Ler e ler e ler e depois reler. Depois escreva, reescreva, escreva e não
se canse de escrever. Mostre para as pessoas, mas esteja apto e maduro para
ouvir críticas, comentários. E tenha muito cuidado com os elogios.
9. No seu entender, qual o papel
do leitor para um escritor?
Sem leitor não pode existir escritor.
10. Como você enxerga
a explosão dos livros digitais e se isso compromete os impressos?
Os livros digitais são bem-vindos. Tudo ganha seu espaço e não tira o
espaço do outro, é ilusão pensar que o livro digital vai tirar o espaço do
livro impresso. O livro impresso continua. O livro digital ganhará seus
adeptos. E o ganho de tudo isso? Teremos mais leitores...
#Pra finalizar um espaço onde você pode deixar o que quiser, o que não
foi perguntado, o que gostaria de responder:
Antes de tudo agradeço pelo espaço para poder compartilhar um pouco das
minhas experiências com a literatura. Aproveito também para dizer que este ano
teremos a publicação da 2ª edição do livro “O copo e a água”, e a publicação de
mais um poema narrativo.
As palavras têm sabor, experimente-as...
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