quarta-feira, 16 de junho de 2021
quinta-feira, 10 de junho de 2021
Resenha Crítica sobre o livro Maria, de Adenildo Lima
Por Gilvania Lamenha
Há
uma forte característica do processo de desumanização ocasionado pelos
problemas sociais abordados na narrativa, e com muita riqueza de detalhes: a
desertificação do sítio de Maria, pela falta de incentivo à agricultura
familiar e a morte da biblioteca ambulante, que era sinônimo de diversão, pois
a partir da contação de histórias, a imaginação despertou nas crianças o desejo
de realizar os seus sonhos e superar aquela dura realidade.
Observa-se
que através da prática da oralidade as sementes germinam e rendem bons frutos
(leitura e escrita). No enredo desse romance há fortes características de uma
literatura engajada, com a denúncia de injustiça social devido o surgimento do
tráfico de drogas e aumento da violência acentuada pelo crime organizado e a
impunidade.
A
infelicidade do personagem Vicente é desmedida ao se deparar com a violenta morte
de um trabalhador rural. Além de ter perdido a pessoa amada, Vicente teve a infância
roubada devido à exploração do trabalho infantil, viu o descaso com a saúde
pública refletida na falta de médico e assistência hospitalar, experimentou a
fome e a miséria que ainda hoje obriga as pessoas a deixarem o lugar onde vivem,
em busca de emprego para garantir a sobrevivência e a realização profissional.
A
valorização da natureza também é marcada na referida prosa: O silêncio da
noite, o canto do galo, a paisagem rural. O olhar e a meiguice da cachorra
Piaba se assemelham a de Baleia, pois é mais sensível que os humanos. A voz de
Maria é estridente e aponta para as desigualdades sociais.
No
capítulo Ana, quanta tristeza! Ela já estava sem pai, sem mãe, sem irmão, sem
voz e nesse momento lembrei "E agora, José?", pois ele também ficou
sem discurso. Mas ao visualizar o capítulo seguinte minha vontade foi de
perguntar: E agora, Maria? E envolvida pelo enredo e pela linguagem acessível
dessa maravilhosa obra literária, percebi na profunda reflexão de Maria que
"A vida é o que se vive". Em instantes me deparei com a personagem
que, vítima de um acidente de trabalho, já agonizava para morrer, mas em meio
aos delírios não abria mão dos seus sonhos: ver o mar em sua imensidão e a
filha formada.
E
para a minha alegria descubro que Maria Rita resistiu a todas as dificuldades
enfrentadas. Ela é sinônimo de resiliência e representa todas as Marias desse
país. Tenho certeza de que ainda há muitas
Ritinhas no Brasil, dispostas a mudar essa história de milhares de crianças
vítimas do descaso social e que vivem esperando "dias melhores".
Agora
imagino... Se Maria Rita tivesse permanecido sentada no alpendre de sua casa,
contemplando a desertificação do sítio onde morou, certamente não teria
resistido aos percalços dessa vida. Mas foi graças a poesia de Drummond que
teve suas forças revigoradas e através da leitura ganhou asas.
Já
nem sei quantos Josés e quantas Marias há nesse país, que leram Carlos
Drummond, Graciliano Ramos e certamente lerão Adenildo Lima. E sem muitas
dificuldades gritarão em alta voz "eu preciso ser alguém na vida" e,
após atravessar desertos, “eu sobrevivi", pois aprendi a arte de ouvir,
falar, gostar de poesia, ler e escrever.
Gilvania
Lamenha Silva Santos,
filha de José Lamenha da Rocha e Maria de Lourdes Luna da Silva, nasceu em 31
de janeiro de 1969, no Engenho Canto Escuro, município de Colônia
Leopoldina. Frequentou as turmas multisseriadas em escolas
do espaço rural, mas concluiu a 4ª série na Escola Joaquim Luiz da Silva, após
a sua vinda para a cidade. Cursou o fundamental II no Colégio Cenecista (até a
7ª série) e concluiu a 8ª série no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em
Palmares- PE. Voltou ao Colégio Cenecista Padre Francisco para cursar o
Magistério (1987). A graduação em Letras (1994) e a Especialização em Língua
Portuguesa (2001) na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul -
FAMASUL.
Em
01 de fevereiro de 1987 iniciou as atividades profissionais no quadro do
magistério público municipal nas séries iniciais, na Escola Joaquim Luiz da
Silva, também teve uma experiência com alfabetização de crianças, pela empresa
privada por um período de quase 08 anos, na Escola Manoel Siqueira Campos,
Destilaria Porto Alegre. Nas séries finais do ensino fundamental, lecionou na
Escola Antônio Lins da Rocha, em Colônia Leopoldina e na Escola Municipal
Carlos Regis de Andrade, em Sertãozinho de Baixo, Maraial –PE. Ainda exerceu a função de professora por um
período de aproximadamente três anos, no Curso de magistério do mesmo Colégio
onde concluiu o ensino médio.
Por
nove anos exerceu a função de coordenadora escolar na Semed - Colônia
Leopoldina, foi gestora na Escola Antonio Lins da Rocha e na Escola Aristheu de
Andrade. Aposentou-se em 2020, apenas na Rede Municipal. Atualmente integra o
quadro de professora efetiva da Seduc/ Alagoas e ministra aulas de Língua
Portuguesa no Ensino Médio da Escola Estadual Aristheu de Andrade, em Colônia
Leopoldina.